O momento de esplendor da capital do Império Bizantino coincidiu historicamente com a oficialização do cristianismo. A partir daí, a arte cristã primitiva, quer era popular e simples foi substituida por uma arte cristã de caráter majestoso, que exprime poder e riqueza.
Enquanto Roma era devastada pelos bárbaros e declinava até se desfazer em ruínas, Bizâncio se tornou o centro de uma brilhante civilização, combinando a arte primordial cristã com a predileção grega oriental pela riqueza das cores e da decoração.
A arte bizantina era eminentemente religiosa. O clero estabelecia as verdades sagradas e os padrões para a representação de Cristo, da Virgem, dos Apóstolos e do Imperador. O objetivo da arte bizantina era expressar a autoridade absoluta e sagrada do imperador, considerado o representante de Deus, com poderes temporais e espirituais. Para que a arte atingisse esse objetivo, uma série de convenções foi estabelecida:
Como a arte egípcia, a arte bizantina também obedecia a convenção da frontalidade.
Imperador Justiniano. Detalhe do mosaico bizantino da
Igreja de São Vital, em Ravena
A postura rígida da personagem representada leva o observador a uma atitude de respeito e veneração. Ao mesmo tempo, ao reproduzir frontalmente as figuras, o artista mostra respeito pelo observador, que vê nos soberanos e nas figuras sagradas seus senhores e protetores.
Ao artista cabia apenas a representação segundo os padrões religiosos, tudo era rigoroso e previamente determinado.
Uma outra regra minuciosa imposta aos artistas pelos sacerdotes era a determinação do lugar de cada personagem sagrada na composição e a indicação de como deveriam ser os gestos, as mãos, os pés, as dobras das roupas e os símbolos. Enfim, tudo o que poderia ser respeitado era rigoroso e previamente determinado.
As personalidades oficiais e sagradas eram representadas como se compartilhassem as mesmas características: as personagens oficiais eram representadas com auréolas, símbolo característico de figuras sagradas. Igual tratamento foi dado à representação da imperatriz Teodora.
Imperatriz Teodora com auréola
Mosaico da Igreja de Ravena - Teodora esposa de Justiniano
As personagens sagradas, por sua vez, eram representadas com características das personalidades do império. Jesus Cristo, por exemplo, aparecia como rei e Maria como rainha. Da mesma forma, situações típicas da corte eram transpostas para as representações dos santos.
Procissão dos mártires (c.500-526), mosaico na parede interna da
basílica de San Apollinare Nuovo, em Ravena, Itália
No mosaico acima, observa-se uma procissão de santos e apóstolos aproximando-se de Cristo com a mesma solenidade dedicada, na vida real, ao imperador nas cerimônias da corte.
OS MOSAICOS BIZANTINOS
Os gregos usavam o mosaico principalmente nos pisos. Os romanos utilizavam na decoração, demonstrando grande habilidade na composição de figuras e no uso da cor. Nas Américas os povos pré-colombianos, principalmente os maias e os astecas, chegaram a criar belíssimos murais com pedacinhos de quartzo, jade e outros minerais.
Mas foi com os bizantinos que o mosaico atingiu sua mais perfeita realização. As figuras rígidas e a pompa da arte de Bizâncio fizeram do mosaico a forma de expressão artística preferida pelo Império Romano do Oriente.
O mosaico surgiu durante os séculos V e VI em Bizâncio, já em poder dos turcos, e em sua capital italiana, Ravena. Os mosaicos eram utilizados na propagação do novo credo oficial, o Cristianismo, portanto o tema era a religião em geral, mostrando Cristo como Mestre e Senhor Todo-Poderoso. Uma suntuosa grandiosidade, com auréolas iluminando as figuras sagradas e fundo brilhando intensamente em ouro, caracterizavam essas obras. As auréolas servem para indicar as personagens sagradas (santos, apóstolos e Cristo) ou o Imperador (considerado representante de Deus).
As figuras humanas são chapadas, rígidas, simetricamente colocadas, parecendo estar penduradas. São imponentes e possuem olhos muito grandes. Os artesãos não tinha interesse em sugerir perspectiva ou volume. Figuras humanas altas, esguias, com faces amendoadas, olhos enormes e expressão solene, olhavam diretamente para a frente, sem o menor esboço de movimento.
Cristo Pantokrator - mosaico bizantino -
na Basílica de Santa Sofia
Assim, as paredes e as abóbadas da igrejas recobertas de mosaicos de cores intensas e de materiais que refletem a luz em reflexos dourados, conferem uma suntuosidade ao interior dos templos que nenhuma época conseguiu reproduzir.
Mosaico da Igreja de São Vital, em Ravena, retratando o Imperador Justiniano
e sua Corte composta por funcionários, generais, eclesiástico e guarda-costas
O mosaico acima, Justiniano e sua comitiva, deu-nos uma imagem grandiosa e altiva do que era um soberano bizantino de meados do século VI. Esguio, imperioso, distante e excelso, Justiniano é mostrado com seu bispo, seu clero e uma parcela representativa de seu exército - uma imagem da união de forças entre igreja e Estado e um vestígio da deificação (santificação, transformação em divindade, divinizar) dos monarcas que se praticara durante o Império Romano. Todas as qualidades principescas de Justiniano também são visíveis, na devida proporção, em sua comitiva. Material e espiritualmente, esses homens fulguram muito acima de nós, suspensos nas paredes do altar-mor.
Detalhe do mosaico na parede interna da basílica de San Apollinare Nuovo
(século VI), em Ravena, mostrando Cristo com dois apóstolos.
COMO SÃO FEITO OS MOSAICOS?
Os mosaicos são feitos com pequenas pedras de diversas cores, as quais são colocadas em argamassa ou gesso uma a uma. Essas pedrinhas coloridas são dispostas de acordo com um desenho previamente determinado. A seguir, a superfície recebe uma solução de cal, areia e óleo que preenche os espaços vazios, aderindo melhor os pedacinhos de pedras. Como resultado obtêm-se uma obra semelhante à pintura.
OS ÍCONES BIZANTINOS
Os artistas bizantinos criaram, também, os ícones (palavra de origem grega, que significa "imagem"), uma nova forma de expressão artística na pintura. São quadros devocionais, geralmente, bastante luxuosos que representam figuras sagradas, como Jesus Cristo, a Virgem, os apóstolos, santos e mártires.
Nos ícones era utilizada a técnica da têmpera ou a da encáustica, onde revestiam a superfície da madeira ou da placa de metal com uma camada dourada, sobre a qual pintavam a imagem. Para fazer as dobras das vestimentas, as rendas e os bordados, retiravam com um estilete a película de tinta da pintura. Essas áreas, assim, adquiriam a cor de ouro do fundo.
A Virgem de Vladimir, sec. XI-XII
ícone bizantino de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
(título conferido a Maria, mãe de Jesus)
Às vezes, os artistas colocavam joias e pedras preciosas na pintura, chegando até a confeccionar coroas de ouro para as figuras de Jesus Cristo ou de Maria. As joias e o dourado nos detalhes das roupas, davam aos ícones um aspecto de grande suntuosidade.
Os ícones, geralmente, eram venerados nas igrejas, mas eram também encontrados nos oratórios familiares, uma vez que se tornaram populares entre muitos povos, mantendo-se por muito tempo como expressão artística e religiosa.
Cristo como governante do Universo,
a Virgem e o Menino, e santos, c. 1190
A Virgem e o Menino entronizados entre S. Teodoro e S. Jorge,
ícone do Monte Sinai, c. século VI
Neste ícone, Maria tem os olhos muito abertos, com o que se pretendia representar um coração puro: é uma mulher de visão, capaz de ver Deus. Não olhava para o pequeno Rei em seu colo; o Menino é o Senhor também dela e, como tal, vale-se a Si mesmo. É para nós que a Virgem dirige esse olhar severamente maternal. Os dois santos são muito caros à tradição da Igreja Oriental: São Jorge, o venerável guerreiro e matador de dragões (embora aqui sua espada esteja embainhada), e São Teodoro, outro guerreiro, hoje menos familiar a nós. Ambos envergam os uniformes da Guarda Imperial, mas agora cada um deles tem por arma a Cruz. Os anjos atrás do trono olham para cima, alertando-nos para a mão de Deus, que aponta e anuncia o Menino. Este segura um pergaminho simbólico. Deus está silencioso, só os anjos O veem, ainda que os olhos das figuras santas pareçam indicar que elas sentem a presença divina. As quatro auréolas, da Virgem, do Menino e dos santos, formam uma Cruz e preparam-nos para a mensagem que o pergaminho deve conter. Trata-se de uma obra mística singular, e, ainda hoje, esse tipo de pintura é produzido na Igreja Oriental.
A ARQUITETURA BIZANTINA
A arquitetura bizantina era inspirada e guiada pela religião e alcançou sua expressão mais perfeita na construção das igrejas. No entanto, houve um afastamento da tradição greco-romana e os padrões arquitetônicos sofreram influência da arquitetura persa.
Um dos melhores exemplos de arquitetura bizantina é a basílica de Santa Sofia, também conhecida como Hagia Sophia, que a partir de 1935 tornou-se o museu de Santa Sofia.
O imperador Justiniano decidiu construir uma igreja em Constantinopla, a maior cidade do mundo durante quatrocentos anos, quis fazê-la tão grandiosa quanto seu império. Contratou dois matemáticos para o projeto: Antêmio de Tales e Isidoro de Mileto, que superaram as expectativas com uma estrutura completamente inovadora, reconhecida como o clímax do estilo arquitetônico bizantino.
Essa igreja foi a terceira igreja de Santa Sofia a ocupar o local, as duas anteriores foram destruídas em revoltas.
A igreja de Santa Sofia (que significa "sabedoria sagrada") mescla o grande porte das construções romanas, como as Termas de Caracalla (ver Arte Romana), com atmosfera mística oriental. Com um comprimento em que caberiam três campos de futebol, combina a planta retangular de uma basílica romana com um imenso domo (cúpula) central. Os arquitetos conseguiram esse vão graças à contribuição da engenharia bizantina: pendentes de abóbada esférica. Pela primeira vez, quatro arcos compondo um quadrado (em oposição às paredes redondas que suportavam o peso como no Paternon) formaram o suporte para um domo. Essa evolução estrutural é responsável pelo interior grandioso, desobstruído, e pelo domo altíssimo.
Quarenta janelas em arco envolvendo a base do domo criam a ilusão de que o domo repousa sobre um halo (auréola, diadema) de luz. Essa radiância das alturas parece dissolver as paredes em luz divina, transformando o material numa visão do outro mundo. A obra fez tanto sucesso que Justiniano se vangloriou: "Rei Salomão, eu vos sobrepujei!"
Basílica de Santa Sofia
Basílica de Santa Sofia
Vista aérea da Basílica de Santa Sofia, em Istambul, Turquia.
Interior do museu de Santa Sofia
Fonte:
Beckett, Wendy. A História da Pintura. São Paulo: Editora Ática. 1997.
Carla Paula
Brondi Calabria e Raquel Valle Martins. Arte, História e Produção 2: arte
Ocidental. Editora FTD, 1997
Strickland,
Carol. Arte Comentada: da Pré-historia ao Pós-moderno.
Editora: Ediouro,
1999.
Proença,
Graça. História da Arte. São Paulo. Ed. Ática. 17ª edição, 2007
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ResponderExcluirFantastico, adorei!
ResponderExcluirFantastico, adorei!
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirAdorei, agregou muito em minha pesquisa , Obrigada !!
ResponderExcluirAdorei, agregou muito em minha pesquisa , Obrigada !!
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirEnriquecimento de conhecimento
ResponderExcluirParabéns
Obrigada! Espero estar ajundando.
ResponderExcluirÓtima
ResponderExcluirÓtimo Trabalho.
ResponderExcluirMuito bem comentado em cada detalhe.
Obrigada por partilhar conosco.
Como eram representadadas?
ResponderExcluirMuito obrigado! Me ajudou muito para meu trabalho de artes! Muito bem feito mesmo.
ResponderExcluiroque siguinifica a coroa e a aureula na cabessa do inperador Justiniano
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