terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Arte Romana


“A Grécia conquistada conquistou seu brutal conquistador”.
(Horácio – poeta da Roma Antiga)

         No auge do esplendor, o Império Romano estendia-se da Inglaterra ao Egito e da Espanha ao sul da Rússia. Expostos aos costumes de terras estrangeiras, os romanos absorveram elementos de culturas mais antigas – notavelmente da Grécia – e transmitiram essa mistura cultural (greco-romana) a toda a Europa Ocidental e ao Norte da África. A arte romana veio a ser a pedra fundamental da arte de todos os períodos posteriores.¹
         A formação cultural dos romanos foi influenciada principalmente por gregos e etruscos, que ocuparam diferentes regiões da península itálica entre os séculos XII e VI a.C. e contribuíram para que Roma se tornasse o centro de um vasto império.²
         O pouco que sabemos sobre os etruscos, em parte pela dificuldade em decifrar sua escrita, é que eles teriam vindo da Ásia e não chegaram a construir um grande império, mas suas cidades tinham sistema de esgotos, aquedutos e ruas pavimentadas. Ocuparam Roma no século VI a.C.
         Assim, a arte romana assimilou, da arte greco-helenística, a busca por expressar um ideal de beleza, e, da arte etrusca, mais popular, a preocupação em expressar a realidade vivida.²
Num primeiro momento, os deslumbrados romanos foram engolfados pela influência grega. Seu apetite era tão intenso que chegavam galeões carregados de mármores e bronzes para adornar os fóruns romanos. Somente Nero importou quinhentos bronzes de Delfos e, quando não restavam mais originais, os artistas romanos passaram a fazer cópias. ¹
Mais tarde,  porém, os romanos deram uma reviravolta na arte e na filosofia gregas. Fundadores do maior império de todos os tempos, acrescentaram talentos gerenciais: organização e eficiência. A arte romana menos idealizada e intelectual que a arte clássica grega; é mais secular e funcional. Enquanto os gregos brilhavam na inovação, o forte dos romanos era a administração. Por onde quer que marchassem seus generais traziam a influência civilizadora da lei e os benefícios práticos de estradas, pontes, instalações sanitárias e aquedutos.¹

ARQUITETURA ROMANA

         Além das leis, talvez a contribuição mais importante de Roma tenha sido nas áreas de arquitetura e engenharia. Os construtores romanos não só desenvolveram o arco, a abóbada e o domo, como foram pioneiros no uso do concreto. Essas inovações provaram ser revolucionárias e permitiram, pela primeira vez, cobrir enormes espaços fechados sem a necessidade de suportes internos.¹





                O arco abrange uma distância maior que o sistema de pilar e dintel (dois postes verticais suportando uma trave horizontal), o que permitiu ampliar o vão entre uma colina e outra. Nele o centro não sofre maior sobrecarga que as extremidades, e assim as tensões são distribuídas de forma mais homogênea. Além disso, como o arco é construído com blocos de pedra, a tensão comprime esses blocos e lhes dá maior estabilidade.
O concreto permitiu projetos mais flexíveis, como o teto abobadado e imensas áreas circulares com teto encimado por domo.¹

       



para-relembrar-grecia-e-roma.html). Acesso em 20/01/2013

         Os arcos e as abóbada nas construções permitiram aos romanos criar amplos espaços internos, livres do excesso de colunas.
         Já no final do século I d.C., Roma  havia superado as influências grega e etrusca e estava pronta para desenvolver criações artísticas independentes e originais.²

Passagem sob arco etrusco em Voltera, Itália.

AS CONSTRUÇÕES ROMANAS

         Os romanos preocuparam-se com o caráter funcional e prático de sua arquitetura. Houve, por isso, uma combinação harmônica entre a beleza e a utilidade nas mais variadas edificações romanas, como: teatros, basílicas, templos religiosos, palácios, estradas e pontes que interligaram as mais diversas regiões do império, facilitando o trânsito de pessoas e o tráfego de mercadorias para outras regiões.*


A MORADIA ROMANA

         A planta das casas romanas era rigorosa e invariavelmente desenhada segundo um retângulo básico.²

Planta da casa romana. O peristilo, no fundo,
foi um acréscimo posterior ao contato
com os gregos.

         Foram implantadas nesta moradia o átrio (espaço central), que possuía no telhado uma abertura que dava na direção do implúvio (tanque). Por esta abertura era possível  a entrada da luz, do ar e também da água da chuva, que era coletada no implúvio.
         E ainda foram implantado nestas moradias o peristilo, que havia no pátio de muitas casas gregas, mas sem querer alterar muito a planta de suas casas, os romanos resolveram acrescentar, nos fundos da casa, um peristilo em torno do qual se dispunham os vários cômodos. O restante da construção seguia o esquema tradicional.

Peristilo da Casa dos Vettii, em Pompéia, na Itália.

 CURIOSIDADE: O palácio de Nero, chamado de Domus Áurea (Casa de Ouro), com um pórtico de 1.600 metros de comprimento, foi a mais opulenta residência da antiguidade. No salão de banquetes, um dispositivo no teto esparzia perfume sobre os convidados. O teto em domo se abria no centro para que os visitantes vissem as constelações.¹

Domus Áurea (Casa de Ouro)
Domus Áurea - cidade de Roma


OS TEMPLOS ROMANOS


         Os templos romanos eram construídos num plano mais elevado, de modo que a entrada só era alcançada por uma escadaria, construída diante da fachada principal. O pórtico e a escadaria tornavam a fachada principal bem distinta das laterais e do fundo do edifício. Acrescentaram, também, aos seus templos os peristilos.


Vista externa da Maison Carré (16 a.C.), em Nîmes, França
(localizado na cidade francesa de Nîmes, construído durante o Império 
Romano entre 19 e 16 a.C., na época do Imperador Augusto)


Em relação às colunas, os romanos adotaram as ordens gregas, mas acrescentaram mais duas novas ordens: a toscana (forma mais simplificada da dórica, sem estrias no fuste) e a compósita (forma enriquecida da Coríntia, com mistura de elementos jônicos e coríntios).


      Diferente dos templos gregos, os templos romanos procuravam criar espaços interiores. Um exemplo dessa diferença é o Panteão, construído em Roma durante o reinado do imperador Adriano. 

Panteão

 Interior do Panteão

A ARQUITETURA DO TEATRO

Os romanos, diferente dos gregos, conseguiram construir edifícios mais amplos, destinados a abrigar muitos espectadores, graças ao uso de arcos e abóbadas. Assim, construíram os anfiteatros. O auditório era destinado ao público.
         A possibilidade de construir os edifícios em qualquer lugar deu aos romanos a liberdade de construção que favorecia a espetáculos, como as lutas de gladiadores, que podiam ser vista de qualquer ângulo. Em um espaço central elíptico, onde se dava o espetáculo e era circundado pela arquibancada, com grande número de fileiras. Um exemplo disso é o Coliseu.

Coliseu – vista externa
Coliseu – vista externa
 Interior do Coliseu

O coliseu era ornamentado com esculturas que ficavam dentro dos arcos e por três ordens de colunas gregas, que não tinham a função de sustentar a construção, mas apenas de ornamenta-la.

AS OBRAS PÚBLICAS

Com grande espírito prático, os romanos construíram casas, templos, termas, aquedutos, mercados e edifícios governamentais. Um exemplo é o aqueduto, conhecido por Le Pont du Gard.

Aqueduto romano
Aqueduto romano

Erguido no século I a.C., esse aqueduto de 50 quilômetros de extensão conduzia água até Nîmes, cidade que hoje pertence à França. A parte dessa obra que mais chama a atenção é a ponte sobre o rio Gardon: com 48,77 metros de altura, três ordens de arcos, ela está apoiada em pilares cravados nas rochas. Um aspecto de grande beleza da construção são os arcos que criam as áreas vazadas, as quais dão leveza à ponte e contrastam com a solidez e a imponência que uma obra de engenharia do Império Romano deveria ter.¹



 A parte central das Termas de Caracala
"Banhos de Caracala", 1899, de Lawrence Alma-Tadema
Uma reconstrução (gravura) de 1891

Nas grandes cidades, as termas ocupavam um espaço considerável, com banhos de diversas finalidades: higiene corporal, terapia, saunas, ginásio, piscina, pórticos e jardins. As mais m famosas são as termas de Caracala que, além de casas de banho, eram equipadas com bibliotecas, salas de leitura e conversação e um teatro. Em geral, as manhãs eram reservadas às mulheres e as tardes aos homens.

A PINTURA ROMANA

Muito do que conhecemos sobre a pintura romana provém das cidades de Pompéia e Herculano que foram soterradas pela erupção do Vesúvio, em 79 d.C., e cujas ruínas foram descobertas no século XVIII.¹
Temos um número considerável de pinturas romanas de Pompéia, mas grande parte delas é claramente obra de artistas provincianos. Muitíssimo influenciadas pela pintura grega (que os romanos admiravam tanto quanto a escultura grega e copiavam nas casas dos ricos), elas não refletem necessariamente as realizações de pintores mais talentosos. Ainda assim, esses trabalhos têm muito encanto. Depõe a favor dos romanos que eles, mesmo na pequena amostra de suas casas que podemos ver ainda hoje, tenham encomendado tantas pinturas.³
O interesse romano na paisagem é, provavelmente, de origem helenística. Também é provável que os artistas romanos estivessem dando continuidade a uma tradição helenística quando embelezavam as paredes do interior das casas com ilusões de revestimentos caros e de lajes de mármore colorido. Tal habilidade foi aplicadas nos palácios dos césares no monte Palatino.³
O que diferencia da tradição helenística a arte romana é a preocupação com fatos – lugares, rostos e acontecimentos históricos. Os artistas latinos estavam sobretudo interessados no espaço (o que talvez lance uma luz curiosa sobre a psique coletiva romana). Também sabiam como ampliar o espaço numa parede, mediante falsas imagens de pórticos, arquitraves e parapeitos, os quais, por sua vez, enquadravam ilusões de paisagens e figuras.³

Mural na Villa di Livia, perto de Roma (detalhe), fins do século I, aproximadamente 275 cm de largura.

Esse mural do saguão da Villa di Livia, em Prima Porta, nos arredores de Roma, é um exemplo encantador do esforço de criar uma ilusão de jardim, como se a parede não existisse. Aproveita a técnica do afresco e mostra aves, frutas e árvores com minúcia realista. Uma treliça baixa separa-nos do estreito gramado. Para além, veem-se uma mureta e, depois, árvores frutíveras.³

Natureza-morta com pêssegos, cerca de 50 d.C.,
aproximadamente 35x34 cm

Esse ilusionismo também é visto em obras pequenas, como a obra acima. Uma natureza-morta com pêssego e jarra de água que foi pintada em Herculano por volta de 50 d.C. Essa imagem de aspecto tão moderno, extraordinariamente viva, revela compreensão da luz natural: o artista tentou mostrar os vários efeitos da luz que incide nos objetos e através deles; ele também usa com coerência o claro-escuro (a arte de distribuir sobre um fundo de sombra efeitos de luz difusa) como meio de dar volume à forma e reforçar a ilusão de realidade. Mas uma vez, essa habilidade foi de início vista nas obras helenísticas, o que revela quantas ideias foram importadas por Roma.³

BECKETT, Wendy. A História da Pintura. São Paulo: Editora Ática. 1997.

POMPÉIA

Pompéia era uma cidade luxuosa, com uma população de 25 mil habitantes. As escavações científicas, iniciadas em meados do século XIX, revelaram não só objetos triviais como fatias de pão, peixe, ovos e nozes (do almoço abandonado por um sacerdote), mas também residências inteiras com pinturas de naturezas-mortas e paisagens realistas em todas as paredes. Como as casas não tinham janelas, mas se abriam para um pátio central, os romanos antigos pintavam janelas de faz-de-conta “se abrindo” para cenas requintadas. Esse estilo de pintura em paredes abrangia desde simples imitações de mármore colorido até cenas trompe l’oeil* de complexos panoramas urbanos, como se fossem vistos através das janelas imaginárias emolduradas por colunas imaginárias. Os artistas dominavam as técnicas da perspectiva e dos efeitos de luz e sombra, desconhecidos no mundo da arte. As paredes resplandeciam com vívidos painéis em vermelho, ocre e verde.¹
Mosaicos montados com pedacinhos de pedras coloridas, vidro ou conchas (chamadas tésseras) revestiam paredes, tetos e chão. Muitos eram figuras bastante confusas. Num deles, um olho medindo quatro centímetros foi composto com cinquenta cubinhos minúsculos. Era comum ver-se o mosaico de um cachorro nas entradas das casas, com inscrição Cave Canem (Cuidado com o Cão).¹

¹Strickland, Carol. Arte Comentada: da Pré-história ao Pós-moderno.
Editora: Ediouro, 1999


trompe l’oeil* é uma técnica artística que, com truques de perspectiva, cria uma ilusão óptica que mostre objetos ou formas que não existem realmente. Provém de uma expressão em língua francesa que significa engana o olho e é usada principalmente em pintura ou arquitetura.  Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Trompe-l'oeil

ESTÁBIAS
Todas as pinturas helenísticas que chegaram até nós são do período romano, e muitas foram feitas por artistas latinos que copiavam pinturas gregas. Essas pinturas romanas do século I revelam um naturalismo sem precedentes e um caráter descontraído e lírico. Tais aspectos ficam especialmente óbvios em Moça a colher flores, essa bela pintura mural, de aparência tão moderna, que foi encontrada na cidade romana de Estábias (era uma pequena estação de veraneio, não tão conhecida quanto Pompéia ou Herculano, que foi destruída junto com essas duas cidades na mesma erupção do Vesúvio, em 79 d.C.  Deslizando suavemente, a jovem afasta-se de nós com um encanto comovente. Não vemos seu rosto, como se ela preferisse esconder de nós a extraordinária beleza que parece associar-se às delicadas flores que colhe. Ela some nas brumas, eludindo-nos e deixando atrás de si apenas uma indicação do que deve ter sido a pintura romana.³
Moça a colher flores, cerca de 15 a.C.-60 d.C,
30 cm de altura

Fonte: BECKETT, Wendy. A História da Pintura. São Paulo: Editora Ática. 1997.


A ESCULTURA ROMANA

Mesmo sendo grandes admiradores da arte grega, os romanos conseguiram desenvolver um estilo próprio. Eram mais realistas e práticos, suas esculturas são em geral uma representação das pessoas, não procuraram idealizar a beleza, como os gregos fizeram. Eles procuraram representar os traços característicos do retrato.

Estátua do primeiro imperador romano, Augusto,
feita por volta de 19 a.C.

O escultor usou como referência o Doríforo, de Policleto (escultura grega), no entanto, adaptou ao gosto romano, procurando realçar as feições reais de Augusto e vestindo-o com uma couraça e uma capa romana.²

Os romanos tinham em casa máscaras mortuárias, feitas em cera, dos ancestrais. Essas imagens realísticas eram moldes totalmente factuais das feições dos falecidos, e essa tradição influenciou os escultores romanos.¹
Exceção a essa tradição era a produção em série de bustos, semelhantes a deuses, de imperadores, políticos e líderes militares, dispostos nos prédios públicos de toda a Europa, reafirmando uma presença política a milhares de quilômetros de Roma.¹
Busto do Imperador Adriano
Busto do Imperador Marco Aurélio
Busto do Imperador Júlio César

CURIOSIDADE INTERESSANTE A monocromia das estátuas clássicas tornou-se para nós sinônimo de bom gosto estético; porém, elas eram, originalmente, coloridas, mas os pigmentos aplicados sobre o mármore não resistiram à ação do tempo. Os arqueólogos e outros especialistas dedicaram-se a vários estudos, para conseguirem chegar às cores originais, lançando mão de modernos equipamentos que permitiram detectar fragmentos dos pigmentos.²
O resultado desse trabalho foi a público em 2004, numa exposição organizada pelo Museu Vaticano, em Roma. Na ocasião, foram exibidas réplicas coloridas de importantes obras da Antiguidade, como a escultura Augusto de Prima Porta, escolhida para o cartaz de divulgação da exposição.²


Augusto de Prima Porta (representação romana), V a.C.

CURIOSIDADE: http://veja.abril.com.br/011204/p_063.html. Acesso em 21/01/2013

Relevo Narrativo

Outra corrente importante da escultura romana foi o relevo narrativo. Painéis de figuras esculpidas representando feitos militares decoravam arcos de triunfo, sob os quais desfilavam os exércitos vitoriosos conduzindo longas filas de prisioneiros acorrentados.¹


Arco do Triunfo (Arco de Constantino) - Roma

        A coluna de Trajano (106-113 d.C.) é o mais ambicioso desses monumentos. Mostra um relevo envolvendo a coluna em mais de duzentos metros de espiral ininterrupta, comemorando massacres em mais de 150 cenas.¹


Coluna de Trajano

 Coluna de Trajano
Coluna de Trajano

Detalhe da Coluna de Trajano

Observação: Todos os textos acima foram tirados dos livros e sites relacionados abaixo. Após cada parágrafo faço referência ao livro do qual o texto foi copiado. Quando não aparece a referência foi por que o texto foi resumido, porém o conteúdo permanece o mesmo.

BIBLIOGRAFIA:
¹Strickland, Carol. Arte Comentada: da Pré-história ao Pós-moderno. Editora: Ediouro, 1999
²Proença, Graça. História da Arte. São Paulo. Ed. Ática. 17ª edição, 2007
³Beckett, Wendy. A História da Pintura. São Paulo: Editora Ática. 1997.