“A Grécia conquistada conquistou seu brutal
conquistador”.
(Horácio – poeta da Roma Antiga)
No
auge do esplendor, o Império Romano estendia-se da Inglaterra ao Egito e da
Espanha ao sul da Rússia. Expostos aos costumes de terras estrangeiras, os
romanos absorveram elementos de culturas mais antigas – notavelmente da Grécia
– e transmitiram essa mistura cultural (greco-romana) a toda a Europa Ocidental
e ao Norte da África. A arte romana veio a ser a pedra fundamental da arte de
todos os períodos posteriores.¹
A formação cultural dos romanos foi
influenciada principalmente por gregos e etruscos, que ocuparam diferentes
regiões da península itálica entre os séculos XII e VI a.C. e contribuíram para
que Roma se tornasse o centro de um vasto império.²
O pouco que sabemos sobre os etruscos,
em parte pela dificuldade em decifrar sua escrita, é que eles teriam vindo da
Ásia e não chegaram a construir um grande império, mas suas cidades tinham
sistema de esgotos, aquedutos e ruas pavimentadas. Ocuparam Roma no século VI
a.C.
Assim,
a arte romana assimilou, da arte greco-helenística, a busca por expressar um
ideal de beleza, e, da arte etrusca, mais popular, a preocupação em expressar a
realidade vivida.²
Num
primeiro momento, os deslumbrados romanos foram engolfados pela influência
grega. Seu apetite era tão intenso que chegavam galeões carregados de mármores
e bronzes para adornar os fóruns romanos. Somente Nero importou quinhentos
bronzes de Delfos e, quando não restavam mais originais, os artistas romanos
passaram a fazer cópias. ¹
Mais
tarde, porém, os romanos deram uma reviravolta na arte e na filosofia
gregas. Fundadores do maior império de todos os tempos, acrescentaram talentos
gerenciais: organização e eficiência. A arte romana menos idealizada e
intelectual que a arte clássica grega; é mais secular e funcional. Enquanto os
gregos brilhavam na inovação, o forte dos romanos era a administração. Por onde
quer que marchassem seus generais traziam a influência civilizadora da lei e os
benefícios práticos de estradas, pontes, instalações sanitárias e aquedutos.¹
ARQUITETURA ROMANA
Além das leis, talvez a contribuição
mais importante de Roma tenha sido nas áreas de arquitetura e engenharia. Os
construtores romanos não só desenvolveram o arco, a abóbada e o domo, como
foram pioneiros no uso do concreto. Essas inovações provaram ser revolucionárias
e permitiram, pela primeira vez, cobrir enormes espaços fechados sem a
necessidade de suportes internos.¹
O arco abrange uma distância maior que o sistema de
pilar e dintel (dois postes verticais suportando uma trave horizontal), o que
permitiu ampliar o vão entre uma colina e outra. Nele o centro não sofre maior
sobrecarga que as extremidades, e assim as tensões são distribuídas de forma
mais homogênea. Além disso, como o arco é construído com blocos de pedra, a
tensão comprime esses blocos e lhes dá maior estabilidade.
O concreto permitiu projetos mais flexíveis, como o
teto abobadado e imensas áreas circulares com teto encimado por domo.¹
(imagens
disponível: http://experimentehistoriaearte.blogspot.com.br/2012/02/
para-relembrar-grecia-e-roma.html). Acesso em 20/01/2013
Os arcos e as abóbada nas construções permitiram
aos romanos criar amplos espaços internos, livres do excesso de colunas.
Já no final do século I d.C., Roma havia superado as influências grega e etrusca
e estava pronta para desenvolver criações artísticas independentes e
originais.²
Passagem sob arco etrusco em Voltera, Itália.
AS CONSTRUÇÕES ROMANAS
Os
romanos preocuparam-se com o caráter funcional e prático de sua arquitetura.
Houve, por isso, uma combinação harmônica entre a beleza e a utilidade nas mais
variadas edificações romanas, como: teatros, basílicas, templos religiosos,
palácios, estradas e pontes que interligaram as mais diversas regiões do
império, facilitando o trânsito de pessoas e o tráfego de mercadorias para
outras regiões.*
A MORADIA ROMANA
A
planta das casas romanas era rigorosa e invariavelmente desenhada segundo um
retângulo básico.²
Planta da casa romana. O peristilo, no fundo,
foi um acréscimo posterior ao contato
com os gregos.
Foram implantadas nesta moradia o átrio
(espaço central), que possuía no
telhado uma abertura que dava na direção do implúvio (tanque). Por esta abertura era possível a entrada da
luz, do ar e também da água da chuva, que era coletada no implúvio.
E ainda foram implantado nestas
moradias o peristilo, que havia no pátio de muitas casas gregas, mas sem querer
alterar muito a planta de suas casas, os romanos resolveram acrescentar, nos
fundos da casa, um peristilo em torno do qual se dispunham os vários cômodos. O
restante da construção seguia o esquema tradicional.
Peristilo da Casa dos Vettii, em Pompéia, na
Itália.
CURIOSIDADE: O palácio de Nero, chamado de Domus Áurea (Casa de Ouro), com um pórtico
de 1.600 metros de comprimento, foi a mais opulenta residência da antiguidade.
No salão de banquetes, um dispositivo no teto esparzia perfume sobre os
convidados. O teto em domo se abria no centro para que os visitantes vissem as
constelações.¹
Domus Áurea (Casa de Ouro)
Domus Áurea - cidade de Roma
OS TEMPLOS ROMANOS
Os templos romanos eram construídos num
plano mais elevado, de modo que a entrada só era alcançada por uma escadaria,
construída diante da fachada principal. O pórtico e a escadaria tornavam a
fachada principal bem distinta das laterais e do fundo do edifício.
Acrescentaram, também, aos seus templos os peristilos.
Vista externa da Maison Carré (16
a.C.), em Nîmes, França
(localizado na cidade francesa de Nîmes, construído durante o Império
Romano entre 19 e 16 a.C., na época do Imperador Augusto)
(localizado na cidade francesa de Nîmes, construído durante o Império
Romano entre 19 e 16 a.C., na época do Imperador Augusto)
Em relação às colunas, os romanos adotaram as ordens gregas, mas
acrescentaram mais duas novas ordens: a toscana (forma mais simplificada da
dórica, sem estrias no fuste) e a compósita (forma enriquecida da Coríntia, com
mistura de elementos jônicos e coríntios).
Diferente dos templos gregos, os
templos romanos procuravam criar espaços interiores. Um exemplo dessa diferença
é o Panteão, construído em Roma durante o reinado do imperador Adriano.
Panteão
Interior do Panteão
A ARQUITETURA DO TEATRO
Os
romanos, diferente dos gregos, conseguiram construir edifícios mais amplos,
destinados a abrigar muitos espectadores, graças ao uso de arcos e abóbadas.
Assim, construíram os anfiteatros. O auditório era destinado ao público.
A
possibilidade de construir os edifícios em qualquer lugar deu aos romanos a
liberdade de construção que favorecia a espetáculos, como as lutas de
gladiadores, que podiam ser vista de qualquer ângulo. Em um espaço central elíptico,
onde se dava o espetáculo e era circundado pela arquibancada, com grande número
de fileiras. Um exemplo disso é o Coliseu.
Coliseu – vista externa
Coliseu – vista externa
Interior do Coliseu
O coliseu
era ornamentado com esculturas que ficavam dentro dos arcos e por três ordens
de colunas gregas, que não tinham a função de sustentar a construção, mas
apenas de ornamenta-la.
AS OBRAS PÚBLICAS
Com
grande espírito prático, os romanos construíram casas, templos, termas,
aquedutos, mercados e edifícios governamentais. Um exemplo é o aqueduto,
conhecido por Le Pont du Gard.
Aqueduto romano
Aqueduto romano
Erguido
no século I a.C., esse aqueduto de 50 quilômetros de extensão conduzia água até
Nîmes, cidade que hoje pertence à França. A parte dessa obra que mais chama a
atenção é a ponte sobre o rio Gardon: com 48,77 metros de altura, três ordens
de arcos, ela está apoiada em pilares cravados nas rochas. Um aspecto de grande
beleza da construção são os arcos que criam as áreas vazadas, as quais dão
leveza à ponte e contrastam com a solidez e a imponência que uma obra de
engenharia do Império Romano deveria ter.¹
A parte central das Termas de Caracala
"Banhos de Caracala", 1899, de Lawrence Alma-Tadema
Uma reconstrução (gravura) de 1891
Nas
grandes cidades, as termas ocupavam um espaço considerável, com banhos de
diversas finalidades: higiene corporal, terapia, saunas, ginásio, piscina, pórticos
e jardins. As mais m famosas são as termas de Caracala que, além de casas de
banho, eram equipadas com bibliotecas, salas de leitura e conversação e um
teatro. Em geral, as manhãs eram reservadas às mulheres e as tardes aos homens.
A PINTURA ROMANA
Muito
do que conhecemos sobre a pintura romana provém das cidades de Pompéia e
Herculano que foram soterradas pela erupção do Vesúvio, em 79 d.C., e cujas
ruínas foram descobertas no século XVIII.¹
Temos
um número considerável de pinturas romanas de Pompéia, mas grande parte delas é
claramente obra de artistas provincianos. Muitíssimo influenciadas pela pintura
grega (que os romanos admiravam tanto quanto a escultura grega e copiavam nas
casas dos ricos), elas não refletem necessariamente as realizações de pintores
mais talentosos. Ainda assim, esses trabalhos têm muito encanto. Depõe a favor
dos romanos que eles, mesmo na pequena amostra de suas casas que podemos ver
ainda hoje, tenham encomendado tantas pinturas.³
O
interesse romano na paisagem é, provavelmente, de origem helenística. Também é
provável que os artistas romanos estivessem dando continuidade a uma tradição
helenística quando embelezavam as paredes do interior das casas com ilusões de
revestimentos caros e de lajes de mármore colorido. Tal habilidade foi
aplicadas nos palácios dos césares no monte Palatino.³
O
que diferencia da tradição helenística a arte romana é a preocupação com fatos
– lugares, rostos e acontecimentos históricos. Os artistas latinos estavam
sobretudo interessados no espaço (o que talvez lance uma luz curiosa sobre a
psique coletiva romana). Também sabiam como ampliar o espaço numa parede,
mediante falsas imagens de pórticos, arquitraves e parapeitos, os quais, por
sua vez, enquadravam ilusões de paisagens e figuras.³
Mural na Villa di
Livia, perto de Roma (detalhe), fins do século I, aproximadamente 275 cm de
largura.
Esse
mural do saguão da Villa di Livia, em Prima Porta, nos arredores de Roma, é um
exemplo encantador do esforço de criar uma ilusão de jardim, como se a parede
não existisse. Aproveita a técnica do afresco e mostra aves, frutas e árvores
com minúcia realista. Uma treliça baixa separa-nos do estreito gramado. Para
além, veem-se uma mureta e, depois, árvores frutíveras.³
Natureza-morta com
pêssegos, cerca de 50 d.C.,
aproximadamente 35x34
cm
Esse
ilusionismo também é visto em obras pequenas, como a obra acima. Uma
natureza-morta com pêssego e jarra de água que foi pintada em Herculano por
volta de 50 d.C. Essa imagem de aspecto tão moderno, extraordinariamente viva,
revela compreensão da luz natural: o artista tentou mostrar os vários efeitos
da luz que incide nos objetos e através deles; ele também usa com coerência o
claro-escuro (a arte de distribuir sobre um fundo de sombra efeitos de luz
difusa) como meio de dar volume à forma e reforçar a ilusão de realidade. Mas
uma vez, essa habilidade foi de início vista nas obras helenísticas, o que
revela quantas ideias foram importadas por Roma.³
BECKETT, Wendy. A História da
Pintura. São Paulo: Editora Ática. 1997.
POMPÉIA
Pompéia
era uma cidade luxuosa, com uma população de 25 mil habitantes. As escavações
científicas, iniciadas em meados do século XIX, revelaram não só objetos
triviais como fatias de pão, peixe, ovos e nozes (do almoço abandonado por um
sacerdote), mas também residências inteiras com pinturas de naturezas-mortas e
paisagens realistas em todas as paredes. Como as casas não tinham janelas, mas
se abriam para um pátio central, os romanos antigos pintavam janelas de
faz-de-conta “se abrindo” para cenas requintadas. Esse estilo de pintura em
paredes abrangia desde simples imitações de mármore colorido até cenas trompe
l’oeil* de complexos panoramas urbanos, como se fossem vistos através
das janelas imaginárias emolduradas por colunas imaginárias. Os artistas
dominavam as técnicas da perspectiva e dos efeitos de luz e sombra,
desconhecidos no mundo da arte. As paredes resplandeciam com vívidos painéis em
vermelho, ocre e verde.¹
Mosaicos
montados com pedacinhos de pedras coloridas, vidro ou conchas (chamadas
tésseras) revestiam paredes, tetos e chão. Muitos eram figuras bastante
confusas. Num deles, um olho medindo quatro centímetros foi composto com
cinquenta cubinhos minúsculos. Era comum ver-se o mosaico de um cachorro nas
entradas das casas, com inscrição Cave Canem (Cuidado com o Cão).¹
¹Strickland, Carol. Arte
Comentada: da Pré-história ao Pós-moderno.
Editora: Ediouro, 1999
trompe l’oeil* é uma técnica artística que, com truques de
perspectiva, cria uma ilusão óptica que mostre objetos ou formas que não
existem realmente. Provém de uma expressão em língua francesa que significa
engana o olho e é usada principalmente em pintura ou arquitetura. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Trompe-l'oeil
ESTÁBIAS
Todas as
pinturas helenísticas que chegaram até nós são do período romano, e muitas
foram feitas por artistas latinos que copiavam pinturas gregas. Essas pinturas
romanas do século I revelam um naturalismo sem precedentes e um caráter
descontraído e lírico. Tais aspectos ficam especialmente óbvios em Moça
a colher flores, essa bela pintura mural, de aparência tão moderna, que
foi encontrada na cidade romana de Estábias (era uma pequena estação de
veraneio, não tão conhecida quanto Pompéia ou Herculano, que foi destruída
junto com essas duas cidades na mesma erupção do Vesúvio, em 79 d.C. Deslizando suavemente, a jovem afasta-se de
nós com um encanto comovente. Não vemos seu rosto, como se ela preferisse
esconder de nós a extraordinária beleza que parece associar-se às delicadas
flores que colhe. Ela some nas brumas, eludindo-nos e deixando atrás de si
apenas uma indicação do que deve ter sido a pintura romana.³
Moça a colher flores,
cerca de 15 a.C.-60 d.C,
30 cm de altura
Fonte: BECKETT, Wendy. A História
da Pintura. São Paulo: Editora Ática. 1997.
A ESCULTURA ROMANA
Mesmo
sendo grandes admiradores da arte grega, os romanos conseguiram desenvolver um
estilo próprio. Eram mais realistas e práticos, suas esculturas são em geral
uma representação das pessoas, não procuraram idealizar a beleza, como os
gregos fizeram. Eles procuraram representar os traços característicos do
retrato.
Estátua do primeiro
imperador romano, Augusto,
feita por volta de 19
a.C.
O
escultor usou como referência o Doríforo, de Policleto (escultura
grega), no entanto, adaptou ao gosto romano, procurando realçar as feições
reais de Augusto e vestindo-o com uma couraça e uma capa romana.²
Os
romanos tinham em casa máscaras mortuárias, feitas em cera, dos ancestrais.
Essas imagens realísticas eram moldes totalmente factuais das feições dos
falecidos, e essa tradição influenciou os escultores romanos.¹
Exceção
a essa tradição era a produção em série de bustos, semelhantes a deuses, de
imperadores, políticos e líderes militares, dispostos nos prédios públicos de
toda a Europa, reafirmando uma presença política a milhares de quilômetros de
Roma.¹
Busto do Imperador Adriano
Busto do Imperador Marco Aurélio
Busto do Imperador Júlio César
CURIOSIDADE
INTERESSANTE A monocromia das
estátuas clássicas tornou-se para nós sinônimo de bom gosto estético; porém,
elas eram, originalmente, coloridas, mas os pigmentos aplicados sobre o mármore
não resistiram à ação do tempo. Os arqueólogos e outros especialistas
dedicaram-se a vários estudos, para conseguirem chegar às cores originais,
lançando mão de modernos equipamentos que permitiram detectar fragmentos dos
pigmentos.²
O
resultado desse trabalho foi a público em 2004, numa exposição organizada pelo
Museu Vaticano, em Roma. Na ocasião, foram exibidas réplicas coloridas de
importantes obras da Antiguidade, como a escultura Augusto de Prima Porta, escolhida para o cartaz de divulgação da
exposição.²
Augusto de Prima Porta
(representação romana), V a.C.
CURIOSIDADE: http://veja.abril.com.br/011204/p_063.html. Acesso em 21/01/2013
Relevo Narrativo
Outra
corrente importante da escultura romana foi o relevo narrativo. Painéis de
figuras esculpidas representando feitos militares decoravam arcos de triunfo,
sob os quais desfilavam os exércitos vitoriosos conduzindo longas filas de
prisioneiros acorrentados.¹
A coluna de Trajano (106-113 d.C.) é o mais ambicioso desses monumentos. Mostra um relevo envolvendo a coluna em mais de duzentos metros de espiral ininterrupta, comemorando massacres em mais de 150 cenas.¹
Arco do Triunfo (Arco de Constantino) - Roma
A coluna de Trajano (106-113 d.C.) é o mais ambicioso desses monumentos. Mostra um relevo envolvendo a coluna em mais de duzentos metros de espiral ininterrupta, comemorando massacres em mais de 150 cenas.¹
Coluna de Trajano
Coluna de Trajano
Coluna de Trajano
Observação:
Todos os textos acima foram tirados dos livros e sites relacionados abaixo.
Após cada parágrafo faço referência ao livro do qual o texto foi copiado.
Quando não aparece a referência foi por que o texto foi resumido, porém o
conteúdo permanece o mesmo.
BIBLIOGRAFIA:
¹Strickland,
Carol. Arte Comentada: da Pré-história ao Pós-moderno. Editora: Ediouro, 1999
²Proença,
Graça. História da Arte. São Paulo. Ed. Ática. 17ª edição, 2007
³Beckett,
Wendy. A História da Pintura. São Paulo: Editora Ática. 1997.